Resenha de “Robín, Robín!”, por Lucas Daniel
Na eletiva Linguagem e Cinema, o professor Kayron nos recomendou o Musical/Curta-metragem “ A Sabiá Sabiazinha”, no inglês “Robin Robin”, dirigido por Michael Please e Dan Ojari. É uma animação Stop-Motion recente, lançada na época de Natal em 2021 e disponível na Netflix, dos mesmos criadores de “A Fuga das Galinhas”.
Nas aulas anteriores, o professor abordou o tema “ A Jornada do Herói ”, desenvolvida de forma mais aprofundada, por Joseph Campbell, no qual foi trago os 12 passos principais para desenvolver a jornada de um protagonista, de uma forma épica e emotiva. Partindo do pressuposto, há várias semelhanças entre o curta-metragem e a jornada do herói, nos quais, mesmo por uma forma rápida (por ser um curta), há um bom desenvolvimento da exposição do assunto, complicação de acontecimentos, clímax e desfecho da história, e por passar em época natalina, a Sabiá faz um desejo a estrela de natal para que consiga o seu desejo de ser um rato.
O enredo gira em torno de uma sabiá, que mediante a uma tempestade, se perde do seu ninho ainda quando era um simples ovo. Por conseguinte, ela é encontrada por uma família de ratos que eram experientes em furtos, e ao nascer, estes são os primeiros rostos que a pequena e recém-surgida sabiazinha vê. Seguindo a história, há um pulo no tempo, antes, havia uma ave que desconhecia a sua identidade por completo, agora, há uma ave que acredita ser um rato, por viver em meio a estes e por ser criada com eles, e luta para se parecer e viver como eles. Tal ideia é exposta, seja pelo fato da jovem ave mudar a sua aparência para um rato – modificando as suas orelhas, por exemplo -, seja pelo fato dela começar a ajudar a sua família nos furtos, tentando agir como um rato.
Como já abordado antes, a família da Sabiá viviam de invadir a casa dos humanos e roubar um pouco dos seus alimentos para sobrevivência, para realizá-lo, era preciso ser furtivo e não ser percebido por aqueles. Entretanto, Sabiá – por ser uma ave – não conseguia ser furtiva, e em uma tentativa de dar orgulho à família, ela tentou pegar um sanduíche que seu irmão gostaria de comer, porém falhou miseravelmente, fez barulho e os ratos tiveram que fugir, junto com a Sabiá, sem levar nenhum alimento, passando uma noite com fome. A ave se magoa e procura uma forma de se redimir, mesmo o rato pai da família dizer a ela que não é preciso, então, ela começa a andar mundo afora em busca de um sanduíche para o seu irmão, ao tentar entrar em uma casa, ela encontra uma gata, que tenta atacá-la, pelo fato da ave ter sido criada por ratos, ela desconhece da magia de voar (mesmo o musical trazendo, de certa forma, que ela sabe que pode voar, essa não tenta, por acreditar ser um rato), por isso a Sabiá corre desesperadamente e encontra mais um pássaro no caminho de fuga – chamado Magpie -, que também não consegue voar, devido a um ferimento na asa. Ao final, os dois conseguem fugir e se esconder da felina na moradia do Magpie, lá descobre-se que este gosta muito de objetos brilhantes, e a sua maior ambição é uma estrela de natal, começa uma aventura entre os dois, com conflitos e resoluções, e a família de Sabiá se reencontra com ela.
O clímax da história é quando a Gata se reencontra com Sabiá, sua família e Magpie e tenta atacá-los, porém Sabiá consegue salvá-los e aprende a voar no exato momento, a salvando de um fim trágico, o desfecho da história termina quando a ave consegue a sua verdadeira identidade e sua aceitação.
A partir desse viés analítico, a história começa a se construir em torno da identificação e aceitação, de uma forma cômica, emotiva e épica. Até porque, desde o início da história, fica claro que a Sabiá tenta agir como um rato para ser aceita por sua família, fugindo da sua identidade, ao tentar ser alguém que ela não é, tudo para dar orgulho à família, e futuramente, no decorrer do enredo, ela encontra uma nova ave que impõe a ela quem a Sabiá deve ser, havendo um conflito na jovem ave a procura de quem ela realmente é, uma imagem tentando ser aceita pela família ou uma imagem de um desconhecido (representando a sociedade) dizendo quem ela deve ser. Com isso, surge a Gata, que mesmo no curta trazendo como uma vilã que veio para acabar com a protagonista, ela na verdade assume um papel de um terror psicológico, na qual ela fica provocando a Sabiá “Aí está, a sabiá que se acha um rato…”, “Você é um péssimo rato…”… no qual esse último é ressaltado durante todo o musical várias vezes. Todavia, no final da história, a Sabiá é muito boa em ser um “péssimo rato”, ela gosta muito de cantar e chamar a atenção, e é isso que faz ela dar orgulho à família e conseguir a estrela de natal para o Magpie, e antes, o seu desejo era se torna um rato para ser aceita pela família, e agora, ela viu que era boa em ser um péssimo rato e passou a dar orgulho à família sendo um péssimo rato. Portanto, ela encontrou quem ela realmente é, uma ave que ama cantar e voar, e usou isso para ajudar a sua família, distraindo os humanos para os furtos serem mais fáceis e mais produtivos, com o musical mostrando que podemos dar orgulho a quem amamos apenas sendo nós mesmos, nós não devemos mudar a nossa identidade em busca da aceitação, devemos mudar o nosso conceito de aceitação em busca de ser quem somos.
A história é super interessante e divertida, apesar de haver várias críticas referentes à dublagem, o desenvolvimento da história é bem elaborado, as músicas são bem produzidas e a moral por trás do enredo é muito importante para se refletir, com uma temática muito atual. Uma animação para crianças que faz adultos mudarem de paradigmas.